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Introdução:
Sétima série. Intervalo de aula. Na sexta série estudava uma garota que, por usar o cabelo semelhante ao de uma personagem de novela, recebeu o apelido de Jô Penteado na minha turma. Com a devida vênia, ela jamais fora das mais belas, mas talvez o seu espelho lhe dissesse algo diferente. O fato é que ela talvez se considerasse a mais bela de todas, rsrsrs.
Precisávamos explorar a vaidade da moça, kkkkk!
A missão:
Fazê-la acreditar que o Jaime (índio Tchuca) estava PERDIDAMENTE apaixonado por ela e que ele não desistiria tão facilmente.
O plano de ação:
Em todos os recreios um mensageiro (via de regra eu, mas outras vezes o Myrony e o Walner) procurava a Jô Penteado. O mensageiro afirmava estar agindo a mando do Jaime e então dizia que ele era muito tímido, mas que não mais conseguia mais disfarçar o óbvio e controlar sua avassaladora paixão.
Eu me lembro que fiz a garota acreditar que o Jaime poderia, em um arroubo sentimental, tentar beijá-la em público ou ajoelhar-se à sua frente, em plena sala de aula, para entregar-lhe rosas vermelhas.
As mensagens se tornavam mais persistentes e a Jô Penteado já começava a demonstrar impaciência com a situação, afirmando que “não desejava nada com o Jaime pois gostava de outra pessoa que não seria do colégio”. Dizíamos que o Jaime a faria esquecer essa pessoa, pois ele afirmava saber que era o homem da vida dela e que jamais desistiria!
O ardil:
Para dar credibilidade ao discurso, fazíamos com que o Jaime fosse atraído até a sala dela, sem saber de nada, é claro. Eu colocava materiais dele na sala da Jô, falava para a Jô que ele passaria na sala só para poder olhar o rosto dela mais uma vez e para que ela se lembrasse da sua existência, e então avisava ao Jaime que “alguém” teria largado seu material por lá. Também dizia ao Jaime que alguém o havia chamado na sala da Jô, só para que ele olhasse pelo vidro e fosse percebido.
A evolução:
Começamos a escrever bilhetinhos e cartas de amor em nome do Jaime, e envolvemos as colegas dela na missão. Até as amiguinhas da Jô já entregavam bilhetinhos apaixonados do Jaime para ela.
Depois de algumas semanas, a Jô já se sentia sufocada pelo amor incontrolável do Jaime!
O diálogo final:
Gilbert: - Eu já disse: ele NÃO vai desistir assim. Ele entrou em um processo de negação, e por mais que eu explique que você não quer namorar com ele, ele se recusará a acreditar, pois afirma saber que vocês foram feitos um para o outro.
Jô Penteado: - De onde esse louco tirou isso? Ele sequer me conhece !
Gilbert: - Engano seu ! Ele segue cada passo que você dá, desde o seu ingresso no colégio. Não houve um só recreio no qual ele tivesse deixado de suspirar ao te observar de longe! Por sinal ele disse que te conhece de outras encarnações e que seus destinos estão entrelaçados !
Jô Penteado: - Ele é maluco! Doente mental! Fale isso para ele !
Gilbert: - Já falei, mas ele se limita a dizer que você é a causa da loucura dele, e que ele jamais desejará a sanidade se isso implicar em perdê-la!
Jô Penteado: - O que eu faço para me livrar desse cara?
Gilbert: - Você já cogitou o contrário? Digo: namorar com ele? Ele gosta tanto de você que quem sabe possa dar certo !
Jô Penteado: - NÃO ! Eu não quero! Quero me livrar dele !
Gilbert: - Tenho medo que ele acabe fazendo alguma besteira, que ele se suicide ao saber disso…
Jô Penteado: - Que se dane ele! Não estou nem aí para o que ele vai fazer! Como eu me livro desse cara? Vou contar tudo na coordenação!
Gilbert: - Acho que isso não funcionará… Se ele for suspenso terá apenas mais tempo para ficar andando pelo pátio pensando em você e esperando o horário da sua saída para te seguir e ficar te admirando…
Jô Penteado: - O que eu faço então?
Gilbert: - Bom, você pode tentar algo que imaginei…
Jô Penteado: - O quê?
Gilbert: - Como ele diz que não acreditaria sequer em seus próprios ouvidos caso você lhe dissesse um “não”, pois sabe que seus destinos estão selados, talvez fosse melhor você dizer esse “não” para ele, em tom de desabafo, NA PRESENÇA DE TODA A TURMA. Dessa forma haverá muitas testemunhas e ele não poderá continuar tentando enganar a si mesmo! Um detalhe: terá que ser um “não” muito claro, inequívoco e firme, algo que não deixe margem para dúvidas, pois ele tentará interpretar de outra maneira… Você deverá falar algo tipo: “Suma da minha vida! Eu não quero NADA com você ! Jamais você terá qualquer chance ! Não insista ! SUMA !”
Jô Penteado: - Vou fazer isso agora mesmo!
Gilbert: - Não! Você está louca?
Jô Penteado: - Por que?
Gilbert: - Se você o fizer no recreio, sem qualquer professor para censurá-lo, confuso com sua reação ele poderá ter alguma atitude intempestiva, tipo tentar te beijar a força para provar o contrário!
Jô Penteado: - O que eu faço então? Ele é um psicopata! Já estou com ódio desse cara!
Gilbert: - Por que ódio por alguém que só lhe quer o bem? Toma isso daqui; ele escreveu para você (entreguei um poema propositalmente muito do mal escrito em uma folha de caderno)!
A Jô picou o poema todinho, jogou no chão e pisou, cheia de ódio, rsrsrs. Estava no ponto!
Gilbert: - Fale tudo para ele no meio da próxima aula. Entre na sala, na presença do professor e com a turma concentrada, pare na frente dele, respire fundo e diga tudo o que tem que ser dito! Desabafe ! Eu também não agüento mais ficar atendendo aos pedidos insistentes dele para te procurar ! Está na hora de darmos um basta a tudo isso !
O desfecho:
Aula em andamento (já não me recordo de quem era a aula; salvo engano do Padilha, do Celso ou do Dirceu); turma concentrada. Eu, Mirony e Walneto de Metila na expectativa… Eis que a porta se abre e entra uma furiosa Jô Penteado, que se desvia bufando entre as carteiras até posicionar-se em frente ao petrificado Jaime. Respira fundo, dedo em riste, e brada: “ -VTNC ! VTNC ! Safado ! Sem vergonha ! Eu não quero nada com você ! NADA ! Desista ! Suma da minha vida ! Desapareça ! VTNC ! VTNC !”
Dado o recado, a Jô se retira rapidamente da sala, deixando um professor estupefato, um Jaime atônito e, após um minuto de silêncio, uma turma inteira às gargalhadas com a situação patética… Não sei como não morremos sufocados de tanto rir. Confesso que a “selvageria” da Jô superou a todas as minhas expectativas ! Não houve chance de reação para o nosso amigo silvícola !
A partir desse dia, toda vez que via o Jaime, a Jô virava a cara fazendo ares de desprezo. O Jaime nunca teve coragem de passar a limpo o ocorrido, rsrs.
Comentários posteriores:
1) Walner:
Eu me lembro, foi na aula do Celso, que ainda brincou que o Jaime precisava melhorar sua forma de se relacionar com as mulheres.
Quantas vezes eu não fui suplicar para que ela aceitasse o amor incondicional dele, e mais tarde supliquei para que ela nos ajudasse a acabar com esse situação, pois o amor platônico que o Jaime sentia por ela era algo incontrolável, pois ele não comia, não dormia, ficava aéreo o dia inteiro aéreo (bem, isso era verdade porque o Jaime era aéreo mesmo), chorava pelos cantos, e nutria uma esperança de que um dia ela seria a namorada dele.
A única maneira de acabar com aquilo seria uma operação “balde de água fria”, em que ela teria que envergonhá-lo na frente de todos de forma que ele entendesse de uma vez por todas de que o que ele desejava era algo impossível. Nós - como amigos, é claro - precisávamos que algo forte acontecesse para que isso deixasse de afetar a vida dele. Estávamos deveras preocupados com a saúde dele.
Me lembro da Jô desesperada, pois não agüentava mais o Gilbert na cola dela, mas fazíamos isso pelo Jaime…
Hilária a cena da menina mandando o Jaime $#@#%#$%%…
Abraços,
Walner Malta
2) Gilbert:
Perfeitas as lembranças do Walner! Como pude me esquecer do Celso sugerindo ao Jaime que ele melhorasse sua maneira de se relacionar com as mulheres !
Operação “balde de água fria”! Foi exatamente o termo que usamos !
3) Jaime (a vítima):
Hilário!!!
Acho que nem eu sabia dos detalhes do plano. Na verdade tinha esquecido completamente o episódio. Sabe que essa estória teve continuidade creio que uns 7 anos depois….
Depois me passa o seu celular.
Jaime