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Prefácio
A fotografia panorâmica surgiu logo depois da invenção da fotografia. A fotografia panorâmica imersiva, também chamada de fotografia 360×180°, fotografia panorâmica esférica ou fullsphere já existe pelo menos desde o final da década de 90. Mesmo entre fotógrafos profissionais ainda é um tema relativamente desconhecido, sendo hoje muito difundido pelo google street view. Veja aqui como é viável fazer esse tipo de trabalho usando software livre atingindo resultados com qualidade profissional.
Embora esse texto priorize o software livre, são abordados muitos conceitos genéricos e não próprios de uma ou outra ferramenta, como por exemplo o conceito de Pontos de Controle, de erro de perspectiva e outras pedras fundamentais para o bom entendimento de uma panorâmica esférica.
Objetivos
Procuro atingir alguns objetivos com este material:
- apresentar como montar panoramas simples,
- apresentar como fazer fotografias panorâmicas imersivas,
- difundir preferencialmente os softwares livres relacionados,
- mostrar outros tipos de uso das ferramentas usadas para panorâmicas, como pilha de foco etc.
A partir desses objetivos, aparentemente simples, entrarei em diversas complexidades e estenderei o assunto, entrando em alguns outros nichos de conhecimento que poderiam ser assuntos separados, mas que relacionaremos ao tema.
Há inúmeras ferramentas distintas que podem fazer o que apresentaremos. Em relação a isso a ideia é sugerir um caminho possível com softwares livres, mas muitos conceitos são usados também em softwares comerciais. Além de ferramentas distintas, há também maneiras diferentes de se chegar a um mesmo resultado. Nesse aspecto a ideia é mostrar alternativas sem esgotar as possibilidades.
O que você já deve saber
Em resumo você já deve saber:
- fotografar,
- lidar com o computador:
- boa habilidade com o mouse,
- conceito de janelas,
- conceito de menus e abas.
- usar um editor avançado de imagens como GIMP (http://www.gimp.org) ou Photoshop para a etapa de ajustes finais
Para este último item indico uma documentação minha sobre o GIMP.
Este material não pretende passar conceitos de fotografia. Serão usados termos como: distância focal, profundidade de campo, abertura de diafragma, sensor APS-C, full frame, fator de corte e outros. Na medida do possível colocarei links para uma definição dos termos. Assumo que você já sabe determinar a exposição correta para uma cena e que entenda os comandos de sua máquina. Algumas técnicas de tratamento e fotografia, como HDR, fusão de exposições e pilha de foco serão um pouco mais detalhados por serem assuntos muitas vezes desconhecidos por alguns fotógrafos e também em função da proposta de uso de ferramentas não comerciais para realizar essas tarefas.
O material não é destinado a leigos nem em fotografia nem em computadores. Um bom grau de intimidade com o computador será necessário em vários pontos. Embora a intenção seja fazer um guia completo, não incluirei informática básica. Esse material não será adequado a usuários iniciantes em computadores. Espero que você se sinta à vontade com todos os conceitos básicos de arquivos e diretórios, janelas, uso do mouse, seus diversos botões e algumas teclas de atalho do teclado, bem como o uso conjugado do teclado e mouse.
Para tirar proveito completo é bom também saber executar comandos numa janela/terminal de comandos, seja lá qual for seu sistema. Na medida do possível os exemplos se adequarão a Windows e sistemas tipo Unix, como Linux, MacOS, BSDs e outros.
Sobre o autor
Fotografa desde 1985, quando teve aulas de fotografia num semestre escolar. No outro semestre foram aulas de “técnicas industriais”. Juntando os dois construiu ampliadores, tripés, máquinas fotográficas caseiras, cabeças de tripé para panorâmicas e outras engenhocas. Depois de se fascinar com as panorâmicas imersivas num projeto de portal turístico em 2000 começou a pesquisar sem compromisso e a fazer panorâmicas em 2002, tendo se especializado em 2010. Em 2004 portou o software Hugin para o sistema FreeBSD. Mantém um blog de fotos 360 com publicações semanais e criou o PanoFórum, primeiro fórum em língua portuguesa dedicado à fotografia panorâmica.
Palestras realizadas sobre panorâmicas, edição de imagens, edição de vídeos e outras em diversos eventos: GnuGraf, SINDPD-RJ, Latinoware, SERPRO, UFRRJ, Colégio Graham Bell, FISL - Fórum Internacional do Software Livre.
Formado como engenheiro eletrônico pela UFRJ (1995) e analista de sistemas como profissão. Especialista em sistemas Unix e software livre com experiência em infra-estrutura de TIC, desenvolvimento de sistemas e gestão de projetos. Organização da BSDCon Brasil (2003), criação da BSD em Revista, do site de notícias www.myfreebsd.com.br (2002-2008) e de cursos de FreeBSD.
Este é um material técnico
Não tenho nenhuma pretensão de ensinar ou influenciar o olhar, a arte da fotografia ou a criatividade de quem vier a ler esse texto. Comentarei minha visão sobre alguns pontos que diferenciam panorâmicas, principalmente as esféricas, mas a arte é sua e continuará sendo. Nem sequer me considero fotógrafo com um bom olhar, mas creio ser um bom técnico no assunto.
Tá com pressa? Pode ser que esteja no lugar errado
Minha intenção aqui não é fazer um guia rápido e sim um guia completo. Há muitos conceitos, softwares e equipamentos envolvidos, principalmente no objetivo final do material, que é chegar à fotografia panorâmica imersiva 360×180º. Acho que tenho uma experiência razoável com a confecção desse tipo de fotos e em geral não se leva menos do que umas quatro horas para tirar, montar, finalizar e publicar uma foto dessas. Um iniciante provavelmente levará umas 20 a 30 horas e um especialista pode chegar a poucos minutos depois de muita experiência. Se fazer já pode levar muito tempo, imagine aprender a fazer todas as etapas. Minha sugestão é que para ler este material você reserve algum tempo para leitura e prática num momento em que possa se concentrar nisso.
Por que software livre?
A opção pelo software livre é muito pessoal. Há softwares comerciais muito bons que dão conta do recado. Não necessariamente um ou outro é melhor ou pior, mais simples ou complexo. Alguns comerciais inclusive são muito parecidos com os que apresentarei aqui. O uso do software livre, na minha visão, tem o preço bom (gratuito) e evitam que você cometa o crime de pirataria, tão comum no Brasil quando se trata de software. Se você é profissional talvez prefira usar um software comercial para ter um suporte formal e “garantido”, caso necessário. Para isso procurarei comentar sempre sobre as alternativas de softwares comerciais equivalentes, mas na maioria dos casos não farei os passos dos tutoriais neles, até por que na maioria dos casos não os possuo. O “garantido” ficou entre aspas ali por que essa garantia na verdade não existe na prática e se você tiver dificuldade com o inglês essa garantia fica ainda mais distante.
Há motivos um pouco mais profundos e ideológicos também. O software livre evita a saída de divisas do país, mantém mais dinheiro por aqui, para a economia local. O “Seu Manoel” da padaria já preferia comprar sapatos mais caros na vizinhança do que ir ao Centro comprar mais barato, pois assim, depois, o “Seu Zé” da sapataria terá dinheiro para comprar seu pão. Isso me parece tão óbvio quanto esquecido cotidianamente hoje em dia. O software livre permite que você use seu dinheiro para pagar por serviços, provavelmente prestados por um agente local ao invés de pagar por direitos autorais para um sujeito do outro lado do mundo, movimentando a economia de outro país. Não que isso seja necessariamente ruim, mas é muito melhor se seu dinheiro circular por aqui, pense um pouco. Outra ideologia que tem nisso é que o trabalho de um consultor que está ali dispendendo tempo para te ajudar realmente tem algum valor na minha opinião. Já a cópia simples de um software não exigiu nenhum esforço de quem o desenvolveu, o que acaba permitindo que alguém concentre muita renda, muito além do que o que merecia pelo esforço dispendido no desenvolvimento, na minha modesta opinião. Alguns softwares comerciais, como o PTGui e o krpano, tem até licenças muito justas, por preços bem razoáveis, mas tem toda essa questão filosófica por trás. Se quiser entender um pouco mais leia aqui um artigo sobre por que não se deveria cobrar por softwares.
Por que compartilho isso?
Essa explicação também está relacionada à minha experiência com software livre. Em princípio fotografia para mim é um hobby. Não que eu não goste de dinheiro, mas tenho um emprego fixo e algum tempo livre, no qual, dentre outras coisas, brinco de fotografar. Se surgir algum trabalho decorrente disso, ótimo, estou à disposição, dentro do meu tempo livre, é só entrar em contato. Enquanto isso vou curtindo também o compartilhamento do conhecimento. Essa lógica é parte da cultura do software livre. Você usa programas de graça e contribui também para a comunidade. Todos saem ganhando. A ideia de quem faz esse tipo de software é ganhar na prestação de serviço, na sua dedicação de horas, e não em licenças de software ou na venda passiva de material. O conhecimento é publicado numa via de mão dupla. Tudo o que ensinarei aqui aprendi pela Internet e essa é uma maneira de retribuir. Se quiser entender um pouco mais essa lógica leia o texto “A Catedral e o Bazar”. É um bom começo. Além disso, pra quem gosta de saber mais sobre um assunto, nada melhor do que se propor a ensiná-lo. Não se aprende mais de outra forma.