Era comum inventarmos cartas de amor para “aproximar casais” da nossa turma. Eis os relatos acerca de algumas delas, contidos em mensagens trocadas pela galera:

Gilbert: - Walner, você se lembra das cartas apaixonadas que enviamos pelo correio para a Christie e a Christianne, em nome do Buono e do Eduardo, respectivamente ???

A do Buono era um postal de Aracati, no Ceará, onde ele passava as férias. O cartão postal apresentava uma casa de sapê com um velho pescador e duas crianças esqueléticas, uma jangada e o mar. Colocamos uma seta sobre o velho e escrevemos: “Nhô Zico”. Explicamos então na carta que aquele era o avô do Buono, velho jangadeiro com quem ele saía para pescar e os outros dois seus primos (salvo engano eles se chamavam Tóbi e Zeca). Ele dizia que era muito amado por lá, mas que sentia muita saudade dela…

Walner: - É verdade Gilbert. (…)

Na carta do Eduardo havia uma foto de um trailer com alguns ciganos em um deserto. Ele dizia para a Christianne que estava acompanhando o pessoal do circo mambembe em uma excursão. Seu papel era realizar malabarismos e piruetas para o público. Fazia muito sucesso como Duddy, o anão malabarista ! Explicava que as únicas mulheres com quem ele tinha contato eram a mulher barbada e a Conga, a mulher gorila. Afirmava então que, “após uma rápida comparação com suas colegas de circo”, descobrira que a amava profundamente e não via mais a hora de revê-la na volta às aulas, quando deixaria de acompanhar seus amigos saltimbancos da trupe circense !

PS:    Tais cartões foram enviados pelo correio no período de férias da sexta ou sétima série para a residência das duas escolhidas.

Walner: - É verdade Gilbert. Fora outras cartas do Daniel para a Marina, da Marina para o Daniel (eles se encontraram no “Muro das Lamentações” e quase começaram a namorar por causa destas cartas)…

Gilbert: - Walner, a conversa do Daniel com a Marina no Muro das Lamentações foi antológica! Já pensou se nossas cartas-bomba tivessem unido o casal? Pior que acho mesmo que bateu na trave… O problema foi o Daniel ter querido expressar o que sentia por uma equação matemática envolvendo integrais e números complexos…

PS: Que eu me lembre havia um trecho na carta do Daniel no qual ele afirmava para a Marina que ela acelerava seus batimentos cardíacos a uma freqüência de quase 200 Hz, com uma velocidade próxima à da aproximação das galáxias de Andrômeda e Via Láctea, e que produzia curvaturas de espaço e dilatações de tempo em seu organismo que sequer Einstein conseguiria decifrar (daí listávamos algumas equações com explicações acerca dos dados para tornar a carta bastante verossímil). Dizia também que estava tão apaixonado que seria capaz de trocar seus livros de física, química e a sua calculadora HP por ela, sentindo muito pouco remorso pela troca !

PS2: Essa carta foi enviada no período letivo, e se fez acompanhar de uma série de bilhetinhos recíprocos escritos por mim, pelo Walner, pelo Mirony, etc. e encaminhados aos dois pombinhos durante as aulas…